Cheguei no Rio dia 14 de fevereiro, mas ainda não terminei de escrever sobre as experiências da viagem, creio que talvez nunca termine. Hoje vou escrever um pouco sobre o último dia de trabalho.
Foi um dia estranho. Não parava de chover há três dias, estava frio demais para tomar banho frio, a ansiedade para voltar para casa era grande, o aperto no coração por me despedir das pessoas que trabalharam comigo, das crianças e dos “abuelitos” era enorme. Fui almoçar no lugar de sempre com a minha amiga peruana, que seria a última do nosso grupo a ir embora, e lá ficamos sem saber o que fazer para a aula das crianças. Seria a última. Teria que ser especial, mas chovia tanto que não poderíamos sair do balcão onde realizávamos as atividades para irmos ao parque. Então fizemos uma revisão de inglês, vimos como os feijões que plantamos juntos já estavam grandes e pedimos para que cada criança escrevesse o que deveria fazer para conseguir alcançar seus sonhos, sobre os quais cada um já havia falado.
Cada criança escreveu como deveriam agir para se tornarem criminalistas, jogadores de futebol, dentistas, veterinários…enfim, foi bonito vermos que pudemos, mesmo que apenas por um mês e meio, fazer parte dos sonhos dessas crianças e ensiná-las um pouquinho do que sabemos, ajudá-las da melhor maneira que pudemos e sonhar junto com elas.
Saímos do galpão e compramos pirulitos para todas as crianças, como presentinho de despedida. Fomos andando pela rua molhada e triste até o ponto de ônibus e as crianças ficaram conosco esperando como sempre, mas dessa vez pediam para que esperássemos o próximo ônibus, que passaria em 15 minutos. Quando entramos no ônibus as crianças começaram a gritar e todos no ônibus ficavam nos olhando com um leve sorriso nos olhos, percebendo o quanto fomos importantes ali. Enquanto o ônibus andava, alguns dos meninos correram atrás do ônibus e a chuva continuava caindo como lágrimas de despedida.
Nunca vou esquecer a alegria e a simplicidade dos niños, que me ensinaram mais do que eu a eles, aprendi muito com as dificuldades de trabalhar em um local totalmente sem estrutura. Às vezes reclamávamos, mas foi fundamental termos colocado a criatividade em prática, não termos tido muita orientação e termos tido que começar tudo do zero, termos tido que selecionar o que comprar, nos dividirmos para ensinarmos crianças de idades diferentes e níveis de inglês diferentes, aprendemos a nos organizar, a harmonizar, a orientar, a termos prontidão, responsabilidade e criatividade.
O mais importante foi aprendermos a convergir nossos interesses e não esquecermos que, apesar de nossas diferenças, todos queríamos ajudar crianças que precisavam de nós e que nos davam muito carinho. Com muito trabalho e muita conversa durante os almoços conseguimos alcançar nosso objetivos e esperamos que a AIESEC continue com esse trabalho, com esse ideal, com essa proatividade de seus membros e intercambistas. Agradeço por essa experiência inesquecível.